Canto do Conto Secreto

Pensamentos, Sentimentos, Atitudes e tudo o que nos rodeia e pode ser escrito numa combinação de meia-dúzia de palavras

Wednesday, June 14, 2006

O começo...

Adoro este tempo. Adoro este tempo escuro de trovoada e chuva. Transporta-me sempre para aquela praia longínqua. Para aquela praia onde chovia tanto que não conseguíamos distinguir os sons da chuva bater no mar e o do mar bater nas rochas. As ruas desertas, as casas cerradas, e eu ali andava. A desafiar a natureza, a sentir-me de braços dados, a entregar o meu corpo a algo mais poderoso. Olhava para todos os lados e lá observava os vários estilos arquitectónicos modernos. Todas as casas tinham uma história, todas diferentes, todas obedecendo a um determinado espírito. Umas mais à Art Deco, outras com um estilo arquitectónico orgânico, outras a high tech, mas tudo ali encaixava, os vários estilos interligavam-se. Mesmo tudo cerrado, mesmo caminhando sozinha na rua, com o céu escuro, aclarado com os trovões a tocarem no mar, com a chuva a bater-me na cara, lá continuava.
Nem sequer me dava ao trabalho de acelerar o passo, apenas queria sentir o melhor que a natureza tem. Continuava imersa nos meus pensamentos, que nem eu própria consigo descrever. A chuva penetrava violentamente no meu corpo, os trovões caiam a metros de distância de mim, e nada, nada disso me impedia de continuar. Nada me impedia de continuar a andar e sentir se a água que me batia no rosto era a do mar ou a da chuva. Nada me assustava, nem a própria trovoada com um som ensurdecedor me incomodava.
Apenas me incomodava sentir que aquele momento ia terminar, que aquela minha viagem ia acabar quando regressasse à vida mundana.
- Mas tu és doida, já viste o teu estado? Porque é que não telefonaste? – Perguntaram-me isto e a minha vontade foi logo esboçar um sorriso. Quem é que me estragava um momento tão íntimo, tão meu, com uma pergunta tão fútil? Constipações, Gripes? Seria a natureza capaz de trair a sua própria filha? A filha que a ama, que se entrega de corpo e alma?
De volta a retirar os trapos de dentro das malas. De volta a procurar adaptar aquela meia dúzia de metros quadrados a um espaço meu. Dispor os meus livros num canto onde nada pudesse tocar, transformar pequenos recantos em espaços que guardariam na memória tudo o que por lá deixasse.



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